Mats Wilander, antigo número 1 do mundo e vencedor de sete torneios do Grand Slam, releva o papel de João Sousa no desenvolvimento do ténis português e mostra-se confiante quanto ao futuro da modalidade.
Com o Open da Austrália à porta, Mats Wilander conversou com o Jornal de Notícias sobre o presente e o futuro da modalidade. Da importância do sucesso de João Sousa no ténis nacional à aproximação do fim de uma era dourada a nível global, o antigo tenista sueco, vencedor de sete torneios do Grand Slam, vê na nova geração qualidade para manter o nível alto nos próximos tempos.
João Sousa, Nuno Borges e Francisco Cabral são os portugueses no quadro principal do Open da Austrália. O que é que isso diz sobre a realidade do ténis português?
Portugal é um país com pouca expressão no ténis, em comparação, por exemplo, com o futebol, no qual tem muito mais. Ainda assim, já se vê o efeito de ter o João Sousa a ganhar jogos em Grand Slams ou de ter conquistado o Open de Portugal (em 2018). Todos os países precisam do seu João Sousa, sobretudo quando ele tem uma atitude tão positiva e pela forma como joga, como dá tudo. Isso torna-o no exemplo perfeito para as crianças e para todas as pessoas que gostam de ténis. És sempre influenciado por um grande jogador, sobretudo quando ele tem a atitude que o João tem. Um dia, talvez, Portugal terá um jogador como Cristiano Ronaldo, no futebol, que decida jogar ténis e se possa tornar no próximo Roger Federer. O primeiro passo foi dado pelo João Sousa. Portugal chegou ao mapa do ténis mundial. Uma vez aí, é mais fácil lá continuar. Os jovens vão ver jogadores em Grand Slams e vão querer jogar ténis em vez de outro desporto.
Novak Djokovic está de regresso ao Open da Austrália. Quão importante isso é para o torneio?
Há, de novo, uma corrida (pela liderança da lista de vencedores de Grand Slams), que não houve no ano passado porque o Novak não pôde jogar em dois “majors”. Agora que pode, a corrida está de volta. O Rafa (Nadal) será quem mais quer que o Novak possa jogar, porque ele não quer continuar a ganhar Grand Slams, e a própria corrida, se o Novak não estiver lá. Não queres ser o melhor jogador de sempre no papel, mas depois ouvires que apenas o foste porque o Novak não foi autorizado a jogar. Para o torneio é muito importante, porque quem quiser derrotar o Novak na Austrália, um torneio que já venceu por nove vezes, vai ter de fazer o jogo da sua vida. O público vai estar ainda mais envolvido, porque vão ver os dois melhores jogadores de sempre. O único senão é o Carlos Alcaraz não poder jogar. É uma grande desilusão para o próprio desporto não ter o número 1 do mundo no torneio.
No lado feminino, poderá alguém competir com Iga Swiatek?
Muitas jogadoras poderão competir com ela, pelo que aconteceu em Wimbledon, no ano passado, e na United Cup, quando perdeu por duplo 6-2 com Jessica Pegula, que mostrou de que forma se pode derrotar a Iga. Ela é uma jogadora tão completa que só existe uma forma de a defrontar: retirar-lhe conforto batendo forte na bola. As suas adversárias já o perceberam. Gostem ou não, é o que têm de fazer. Não podem jogar como a Ons Jabeur, porque só ela é capaz de jogar daquela forma. Vai ser difícil para a Iga. É a grande favorita, mas vai ser difícil.
No ano passado vimos Roger Federer retirar-se, tudo indica que Serena Williams também, e Rafael Nadal e Novak Djokovic já não são propriamente jovens. O ténis está preparado para crescer sem as suas maiores figuras da última década?
O ténis prosperou no ano passado mesmo quando Federer, ainda antes de se retirar, esteve de fora e o Novak não pôde jogar na Austrália e nos Estados Unidos. Na Austrália, por exemplo, tivemos uma final como a que opôs o Nadal ao Medvedev e percebemos que não iríamos ter problemas. Nos Estados Unidos, vimos o Nadal perder para o Tiafoe, e o Carlos Alcaraz deixar claro que o ténis seguirá o seu caminho, porque ele é muito divertido e empolgante. Percebemos que a modalidade não é apenas sobre os jogadores que venceram vinte “majors”, é antes sobre ter jogadores que as pessoas reconheçam e com os quais criem uma ligação. O Carlos Alcaraz é o novo número 1 perfeito. Neste momento, o Novak e o Rafa continuam a jogar e aquilo que não queremos é que os melhores jogadores do mundo se retirem enquanto estão a esse nível, como o fez a Ash Barty. Sabemos agora que ela está grávida e que quer formar família, mas retirar-se como número 1 do mundo é mau para o desporto, a meu ver. É por isso que a Serena, se decidiu retirar-se, escolheu uma boa altura para o fazer, tal como o Roger (Federer), porque estava lesionado. O ténis está pronto, mas queremos ver o Alcaraz, o Medvedev, o Tsitsipas ou o Holger Rune vencerem o Rafa ou o Novak antes de se retirarem. Para mim, isso é muito importante.
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