“Trabalhadores”. José Teixeira, presidente do Conselho de Administração do grupo bracarense de construção DST, insiste na palavra. E explica porquê: “nós não temos colaboradores, temos trabalhadores. Colaborador é uma designação que se inventou para retirar o valor ao trabalho”. Um valor que diz “é o princípio de tudo”. José sabe-o bem.
Aos sete anos, com o pai emigrado, partia cascalho para vender e assim ajudar a mãe e sempre que podia, corria três quilómetros para encontrar a carrinha cinzenta da Gulbenkian e trazer livros para ler. “O passado não se apaga. Somos o produto do que fomos”, recorda. Do seu passado, retirou o valor do trabalho e a ”liberdade da leitura”. Lia para “escapar à pobreza” e décadas depois admite que isso mudou o seu caminho. “A liberdade depende do que lemos. Ter sido um ávido leitor deu-me uma liberdade muito grande”, diz. Hoje, retribui o que conquistou aos 2.700 trabalhadores que emprega.
Cátia Mateus e José Teixeira, presidente do Conselho de Administração do Grupo DST, durante a gravação do podcast O CEO é o Limite
Nuno Fox
Tiago Pereira Santos
Economia dia a dia
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Diz que não obriga ninguém a ler, mas, entre risos, admite que “na empresa temos um tempo específico por dia para ler. Faz parte do horário de trabalho. Ora, se faz parte do horário de trabalho e o trabalhador não o faz, está a faltar ao trabalho”. Mais, a avaliação de desempenho do Grupo DST inclui idas ao teatro, exposições, leitura. E inclui também aulas de filosofia, retórica, história da arte e outras matérias incomuns num grupo de construção, sempre em horário de trabalho.
“Faz parte do plano anual de formação”, explica José Teixeira, garantindo que envolve todos os trabalhadores, desde o chão de fábrica até aos engenheiros. “As aulas de filosofia são as mais concorridas, na última estavam 480 trabalhadores online e no final temos sempre de terminar porque há muitas perguntas”, reforça, acrescentando que “os trabalhadores não querem pão com manteiga. Querem coisas difíceis”.
Este investimento tem retorno? José Teixeira garante que sim, “porque a cultura tem um valor económico. Um país sem cultura não sobrevive, uma economia sem cultura não avança”. Mas que não tivesse um retorno financeiro, o retorno social estava garantido. Estas sementes que procura lançar não vão frutos de igual forma em todos os trabalhadores, reconhece. Mas darão em alguns, “e isso basta”, sintetiza o presidente da DST. Tal como deram frutos consigo, no passado.
Mário Henriques
O CEO é o limite é o podcast de liderança e carreira do Expresso. Todas as semanas a jornalista Cátia Mateus mostra-lhe quem são, como começaram e o que fizeram para chegar ao topo os gestores portugueses que marcaram o passado, os que dirigem a atualidade e os que prometem moldar o futuro. Histórias inspiradoras, contadas na primeira pessoa, por quem ousa fazer acontecer.
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