Quem foi ao Campo Pequeno à espera de ver um clássico concerto dos Pixies, à espera de uma compilação dos melhores ‘hits’ ou uma breve serenada ao argumento do ‘antigamente é que se fazia boa música’, acabou por sair da arena positivamente enganado.
Durante duas horas, e após mais de 30 temas, os norte-americanos ignoraram o estatuto de quem não precisa de fazer mais do que o conhecido. O grupo liderado por Black Francis apresentou temas novos, um último álbum quase inteiro e um concerto em que o rock alternativo, que tanto influenciou os seus contemporâneos como nomes mais recentes do género, fez vibrar as várias gerações na sala quase esgotada de Lisboa.
A abrir vieram logo os temas mais antigos. ‘Here Comes Your Man’, com a sua inesquecível abertura, surgiu logo à terceira música, quase para despachar e deixar Francis, Joey Santiago, David Lovering e Paz Lenchantin tocarem o que mais gostam.
A partir daqui, foi mais difícil para os fãs mais desatentos perceberem que música estavam a ouvir – mas não deixaram de saltar e aplaudir. O último álbum, ‘Doggerel’, lançado em 2022, foi tocado quase na sua totalidade, e a banda não se acanhou em fazer do concerto uma amostra do seu repertório pós-regresso aos palcos, em 2014.
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Músicas como ‘Who’s More Sorry Now’, ‘Thunder and Lightning’, ‘Haunted House’ e ‘Pagan Man’ foram algumas das que marcaram a passagem pelo trabalho mais novo. Desde 2014, depois de muitos preverem que apenas voltariam para uma mão-cheia de concertos, o grupo ficou e já fez tantos álbuns na sua segunda vida como na primeira – antes de ‘Doggerel’, os Pixies ainda lançaram ‘Indie Cindy’ (2014), ‘Head Carrier’ (2016) e ‘Beneath the Eyrie’ (2019) – e também estes foram abordados, nomeadamente com ‘All the Saints’.
Durante todo o concerto, Black Francis e o resto da banda manteve-se estoico em palco. Sem trocar uma palavra com o público, Francis, apoiado pelos ‘riffs’ de Santiago, que se mantém tão precisos e limpos como há 30 anos, parece não envelhecer, pelo menos na voz, cantando e vociferando as mesmas letras estrambólicas e por vezes confusas que construiu para os Pixies.
Pelo meio, houve tempo mais do que suficiente para uma passagem pelo rock, às vezes punk, outras vezes alternativo, que fez dos Pixies um dos grupos mais acarinhados para quem viveu o final dos anos 80 e início dos anos 90. ‘Caribou’, ‘Vamos’, ‘Isla de Encanta’, ‘Hey’ e a clássica ‘Where Is My Mind’ deixaram velhos e novos aos berros, a tentar fazer-se ouvir face à acústica questionável do Campo Pequeno (à qual não ajudou a bateria ouvida num frustrante eco por David Lovering).
No final, o concerto fechou-se com ‘Winterlong’, a música de Neil Young que os norte-americanos têm usado para acabar os espetáculos, tal como já o tinham feito em Paredes de Coura, por onde passaram em agosto do ano passado.
Duas horas depois, Black Francis foi-se sem dizer uma palavra a mais do que as que meteu nas suas letras. Uma vénia, uma enorme demonstração de apreço pelo grupo e ficou feita mais uma noite na longa carreira dos Pixies. Uma carreira que parece ter virado uma página: os Pixies não são mais uma banda de nostalgia, não são um ato de lendas em Glastonbury. São um grupo amarrado à sua música mas, felizmente para os fãs, sem nunca caírem no erro de se agarrarem ao que esta já foi, mas sim ao que esta pode ser.
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