“Ignoraram completamente o facto de, após o início da operação militar especial, os nossos militares terem declarado as áreas relevante do Mar Negro (…) como áreas com status limitado para o uso de qualquer aeronave”, afirmou Serguei Lavrov, em entrevista à televisão estatal russa, na quarta-feira.
Mas as acusações não ficaram por aqui. O ministro russo culpou ainda os EUA de “procurarem constantemente provocações destinadas a aumentar as tensões”.“Qualquer incidente que provoque um choque entre as duas grandes potências nucleares representa sempre um grande risco”.
No mesmo dia, o ministro russo da Defesa disse também ao homólogo norte-americano que o “reforço” das operações de espionagem pelos EUA foi uma das causas do incidente.
“As causas do incidente são a não observância pelos Estados Unidos da zona de voo restrita anunciada pela Rússia e estabelecida como resultado da condução da operação militar especial [na Ucrânia], bem como o reforço das atividades de inteligência contra o interesses da Rússia”, sublinhou Serguei Shoigu, citado num comunicado do Ministério da Defesa.
Já esta quinta-feira, Shoigu conversou com o secretário norte-americano da, Lloyd Austin, a quem transmitiu que os “voos de drones norte-americanos estratégicos ao largo da Crimeia são de natureza provocativa” e “criam as condições para uma escalada no Mar Negro”.
“A Rússia não quer tal desenvolvimento dos acontecimentos, mas reagirá proporcionalmente a qualquer provocação”, sublinhou a Defesa russa, considerando que “as principais potências nucleares devem agir da forma mais responsável possível, em particular mantendo canais de comunicação abertos para discutir qualquer situação de crise”.
Do lado norte-americano, Austin repetiu que “é importante que as grandes potências sejam modelos de transparência e comunicação, e os Estados Unidos vão continuar a efetuar voos e a operar em todas as regiões que sejam permitidas pela lei internacional”.
O Ministério da Defesa da Rússia terá dado ordem para os caças russos perseguissem o drone norte-americano que sobrevoava o Mar Negro, no início desta semana, de acordo com dados dos serviços secretos dos Estados Unidos. Segundo o porta-voz do Departamento de Estado, houve conhecimento por parte das altas patentes e aprovação superior para o “assédio” à aeronave.
“As nossas aeronaves, os nossos drones foram perseguidos por pilotos russos de forma quase consistente. E afirmar que é um padrão consistente é em consequência das ações dos pilotos e não parece verdadeiro dizer que o fazem por vontade própria”, afirmou Ned Price numa conferência de imprensa.“O facto de termos observado um padrão por parte das
forças da Federação Russa sugere que há, pelo menos, aprovação de altos
escalões para este tipo de atividade”.
“Sabemos que a interceção foi intencional. Sabemos que o comportamento agressivo foi intencional e também sabemos que foi muito pouco profissional e seguro”, afirmou o presidente do Estado-Maior dos EUA, na conferência de imprensa.
Mark Milley admitiu, contudo, que ainda não há certezas de o “contacto real dos caças russos” com o aparelho norte-americano , que levou à queda do aparelho, tenha sido também intencional. O general tentou ainda garantir que não está previsto qualquer repercussão imediata à Rússia, para além das advertências contra as agressões de Moscovo.
“Não pretendemos provocar um conflito armado com a Rússia e acredito que, neste momento, devemos investigar este incidente e seguir em frente”.
Na quarta-feira, a Rússia já tinha admitido que pretendia recuperar os destroços do drone abatido no Mar Negro para provar o envolvimento dos EUA na operação na Ucrânia e, de acordo com as autoridades norte-americanas, as forças russas já chegaram ao local do acidente. Washington, por sua vez, também pretende recuperar parte do aparelho e investigar os motivos do Kremlin.
“Não sei se vamos conseguir alcançá-lo ou não, mas temos que tentar. E necessariamente vamos esforçarmos para isso e espero, claro, com sucesso”, disse o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, à televisão estatal.
Como confirmou ainda Nikolai Patrushev, o objetivo é provar que os EUA “estão a participar diretamente” na guerra com a Ucrânia.
Os EUA garantem, por seu lado, que “tomaram medidas” para que o equipamento não caísse nas mãos das autoridades russas. O general Mark Milley não descartou a possibilidade de Moscovo tentar recuperar os destroços do aparelho, mas assegurou que seria uma “operação difícil”.
“Não temos navios no Mar Negro neste momento” e o drone provavelmente partiu-se e afundou-se numa zona de grande profundidade. Mesmo que a Rússia consiga recuperar os destroços, os Estados Unidos tomaram medidas para proteger qualquer informação sensível
“Estamos confiantes de que tudo o que podia ter valor desapareceu”, disse o general Milley.
Apesar de Washington considerar que pode não conseguir recuperar o drone antes de Moscovo, o software do aparelho terá sido apagado remotamente antes de cair, de forma a evitar que a Rússia tivesse aceso a informações secretas norte-americanas.
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