“Há necessidade, por exemplo, de protocolos regionais, que salvaguardem a existência de mecanismos de segurança partilhados por vários países numa mesa área”, defendeu a diretora do Centro Nuclear de Odessa, Polina Sinovets, referindo-se às falhas detetadas quando ocorreram os primeiros ataques à maior central nuclear da Europa, em Zaporijia, no ano passado, no início da invasão russa da Ucrânia.
Numa conferência sobre “segurança nuclear durante um conflito armado: lições da Ucrânia”, destinado a discutir as estruturas securitárias para prevenir, detetar e responder a atos maliciosos ou não autorizados por atores não estatais, Sinovets considerou que os recentes ataques à central nuclear de Zaporijia provaram que os países potencialmente afetados por uma explosão não estavam coordenados entre si.
“Quando diretores de agências nucleares de países vizinhos tentaram falar entre si, rapidamente perceberam que a agência da Geórgia defendia umas coisas e a agência da Moldova defendia propostas radicalmente opostas. Mas todos estavam expostos aos mesmos riscos”, disse a especialista, que foi acompanhada nesta posição por todos os membros do seu painel.
O evento (em formato presencial e virtual) foi organizado pelo Instituto de Pesquisa para a Paz Internacional (SIPRI, na sigla em inglês), pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Malta, e pelo Centro de Odessa para a Não Proliferação de Armas Nucleares.
O investigador Vitaly Fedchenko, do SIPRI, explicou que, de acordo com as convenções internacionais sobre política nuclear, desde logo a Convenção de Genebra de 1949, os Estados ficam obrigados a garantir que os operadores das centrais atómicas cumprem os requisitos acordados.
“As instalações nucleares são consideradas ‘objetos civis’, de acordo com um protocolo adicional, de 1977, à Convenção de Genebra”. Logo, mesmo em situações de conflito armado, o Estado não se pode demitir da verificação das condições de segurança e deve fazer isso em coordenação com outros estados subscritores dos acordos”, disse Fedchenko.
A investigadora Irina Maksymenko, do Centro Nuclear de Odessa, descreveu relatos de responsáveis das centrais nucleares ucranianas atacadas por forças russas, segundo os quais “ficou claro que os riscos de contaminação estavam pouco acautelados, na situação de uma explosão causada por um ataque externo”.
Além disso, houve falhas no abastecimento de água que serve para arrefecer os sistemas nucleares sob pressão.
A ex-diretora da Agência Internacional de Energia Atómica Anita Nilsson explicou que este organismo pode prestar ajuda em situações de emergência, como aquelas que agora se colocam na Ucrânia, mas lembrou que não deixa de ser uma agência intergovernamental.
“Isto quer dizer que é preciso a aprovação de uma maioria dos membros da agência para que uma qualquer intervenção de emergência seja efetivada pelos seus especialistas. Ou seja, mais uma vez, é preciso que haja coordenação entre os países”, defendeu Nilsson.
No mesmo sentido, a diretora do Programa de Desenvolvimento do Instituto Mundial de Segurança Nuclear, Rhonda Evans, argumentou que os protocolos de proteção de centrais atómicas “devem sempre estar sujeitos a convenções internacionais”.
“Uma explosão numa central nuclear nunca é o problema apenas de um país”, disse esta especialista, em defesa de políticas comuns, não apenas de gestão técnica de crises, mas também de comunicação pública internacional.
Polina Sinovets lembrou que, recentemente, a propósito dos ataques à central de Zaporijia, cresceram rumores de contaminação radioativa, que não foram devidamente controlados nos países cuja opinião pública ficou alarmada.
“A população da Moldova, que é muito vulnerável à propagada russa, ficou em pânico, quando sentiu que poderia vir a ser atingida por nuvens radioativas oriundas da Ucrânia”, disse Sinovets.
Leia Também: Relatório da ONU acusa Rússia de vários crimes de guerra na Ucrânia
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