Observo a China enquanto me dirijo a alta velocidade num comboio ultramoderno rumo ao coração de Pequim, uma das maiores metrópoles do mundo. Pelo vidro da janela, reparo no desenvolvimento desenfreado deste país ao confrontar-me com o nível surreal de prédios, autoestradas, pontes e demais infraestruturas que estão a ser construídas a uma velocidade que ultrapassa o humanamente concretizável num delírio colectivo que impressiona qualquer um.
Deixo a estação de Dongzhimen para encontrar o apartamento de uma jornalista da agência noticiosa Reuters que tinha conhecido e que me disponibilizou um espaço onde poderia ficar hospedado. O trânsito é caótico. Nesta selva de asfalto o barulho é ensurdecedor. Ninguém se respeita, as passadeiras são uma utopia ou, melhor, uma gentileza envenenada. Foi a primeira vez que vi um carro a aproximar-se de uma e a apitar, sem abrandar, continuando a sua marcha indiferente aos peões que a estavam a atravessar.
Ainda há poucos anos, a maior parte dos condutores apenas andava de bicicleta e agora vêem-se com um carro nas mãos e não têm noção do que isso implica. Com o tempo, fui-me apercebendo de que este episódio era o reflexo de um país que se desenvolveu desmesuradamente, exibindo uma crescente prosperidade, mas com uma população que não seguiu essa evolução pois, apesar de ostentar uma vasta gama de bens de consumo, não foi acompanhada no campo cultural, ou mesmo cívico, apresentando um espírito, ou modo de vida que contrastam com a atualidade. Assim, atravessar uma rua é uma aventura em que temos de estar constantemente atentos num ângulo de 360 graus.
Com a trouxa já arrecadada em casa, apanho o metro e fico perplexo com tudo à minha volta, seja pelo volume de gente, que é do mais claustrofóbico possível, como o ritmo frenético com que passam as composições. Somos partes minúsculas, integrantes de enormes artérias que bombeiam massa humana em todas as direções. A cada trinta segundos, entram e saem hordas de gente com destinos tão díspares, sempre num perpétuo movimento. Saio na Praça Tiananmen, o ponto nevrálgico para onde a minha atenção converge.
Com os seus 440.000 metros quadrados, é a maior do mundo, mas diferencia-se das outras por não ser de livre acesso. Há que passar por controlo de raio x e detetor de metais, e no seu interior não há um único banco para se sentar e relaxar enquanto se aprecia a vista. Há aqui uma austeridade que amarga a boca do visitante. O espaço está cheio de visitantes, mas não se sente vida. Sobra na estranha sensação de que estou a ser observado por alguém do regime.
Ao cimo, uma das famosas entradas para a Cidade Proibida assiste a um frenético entrar de turistas que fazem uma foto com o enorme cartaz de Mao Tsé-Tung como pano de fundo. É por esse estadista que, do lado inverso da praça, uma enorme fila espera pacientemente para ver a sua múmia apesar da chuva que se faz sentir. No meio, um monumento temporário indica os 90 anos do Partido Comunista Chinês, atraindo também a atenção de quem queria fazer mais uma foto de família na ida à capital.
Embrenhava-me numa sociedade demasiado própria para esboçar um juízo ou avaliar à primeira vista. Se, por um lado, me confrontava com um regime autoritário e controlador, por outro não poderia negar o desenvolvimento que aí se está a viver nos últimos anos. Olhava para a sua população, com visível poder económico e pouco importada que o governo fosse ditatorial ou democrático, relegando para um plano muito secundário qualquer “ismo” a que o país pudesse estar associado.
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