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Outras Obras sobre Penacova (15): Poesia à beira do Mondego – Penacova Actual

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David Gonçalves de Almeida

Poesia à beira do Mondego é o primeiro livro de Jorge Figueiredo. A edição, que tem data de 2010, contou com o apoio do Grupo Desportivo da Foz do Caneiro, Câmara Municipal, Junta de Freguesia, empresa Veiga Lopes e de particulares amigos.

Escreve o autor, na Introdução, que este conjunto de poemas retrata, entre outros, alguns dos momentos da infância e juventude que passou na aldeia do Caneiro. “Nasci nesta pequena aldeia que é Foz do Caneiro, freguesia de Lorvão, concelho de Penacova. Relembro agora, nos meus poemas o Rio Mondego, que foi e será sempre o orgulho deste povo, não só pelas tradições dos barcos e barqueiros, mas também das recordações que deixou em tempos passados, nos habitantes deste lugar e daquela época. Os seus extensos areais, a Foz, onde as mulheres iam lavar roupa e onde os barcos vinham descarregar as uvas e o milho, os jogos de futebol na areia, são marcas que ficaram gravadas não só em mim, mas também em todos os habitantes do Caneiro” – salienta.

Continuando a leitura do texto introdutório, ficamos a conhecer um pouco melhor a sua experiência de vida: “Mais tarde, como tantos outros, parti daqui para outras paragens, mas as circunstancias da vida , levaram-me um dia a regressar outra vez à minha terra natal. Foi então, agora com mais tempo disponível, que dei por mim, num desses dias, a escrever os primeiros versos daquele que foi o meu primeiro poema, se bem que para alguns amigos, e noutras ocasiões, eu já tivesse feito alguns mas por brincadeira. Mas todos os poemas aqui descritos, tiveram o momento certo em que foram feitos. Não foram feitos ao acaso. Houve momentos mais nostálgicos e solitários, em que fiz alguns deles. Outros há que foram motivo de inspiração em determinadas ocasiões, e outros ainda que foram motivo de brincadeira com amigos.”

Do vasto conjunto de oitenta e dois poemas, seleccionámos “O Caneiro”, “As ruas do Caneiro” e “Expo-Artes do Caneiro”:

O CANEIRO

Que obra-prima foi esta
Que nos deu a natureza?
Mostras a quantos cá passam /
Ó Caneiro tua beleza

No fundo de quatro serras / Fica o Caneiro perdido / Ó terra dos meus encantos / Por mim não serás esquecido // Entre Penacova e Coimbra / Está o Caneiro situado / Bem à beira do Mondego / O rio por nós amado // Quando olho aquelas águas / Eu revejo tudo agora / O que foi o rio Mondego / Naqueles tempos de outrora // Os extensos areais / As mulheres a lavar / Os barcos com uvas e milho / Na Foz a descarregar // As peixadas que fazíamos / Naquelas tardes de sol / Onde naqueles areais / Se jogava futebol // As saudades desse tempo / Que há muito já lá vão / Trago guardado ó Caneiro / Num canto do coração // Mesmo quem de cá saiu / Sente uma atracção por ti / E mais cedo ou mais tarde / Voltam de novo aqui // Ó jóia da natureza / Ó minha terra tão querida / Vou terminar estes versos / Que guardo para toda a vida.

AS RUAS DO CANEIRO

Quando desces pelo Roxo / E já perto da Casola / Encontras as primeiras casas / Ali na Rua da Escola.

Desce então um pouco mais / À direita vais cortar/ Desce pela Rua da Barroca/ e à estrada já vais chegar.

Vai pela Rua Central / Até ao Fundo do Lugar / E pela Rua Principal / À Estrada vais parar.

Vai andando um pouco mais / E passa pelo Pontão / Segue um pouco mais para a frente / E já estás no Barracão.

Sobe o Zorro devagar / Assim não te cansas tanto/ Mais um pouco e vais chegar/ Á Rua do Barroco Santo.

Corta á esquerda e já chegaste/ Á nova Rua do Bacelo/ Olha dali o Mondego/ Que dali dá gosto vê-lo.

Subindo um pouco mais / À Capela vais chegar / Senta-te no muro e descansa / Ou então põe-te a rezar.

Sobe ás Lapas e à direita / Há gente rija que não tomba / É o que vais encontrar / Ali na Rua da Lomba.

Subindo um pouco mais / Já na Rua do Castanheiro / Estás quase a chegar ao fim / Destas ruas do Caneiro.

e finalmente chegaste / a rua da liberdade / bebe um copo na Celestina / para matar a saudades
desta terra tão bonita / deste tão belo roteiro / que só se encontra aqui/ na aldeia do Caneiro.

EXPO ARTES E CULTURA DO CANEIRO

[…]
Mostrámos a toda a gente
O que sabemos fazer
E também lhe demonstrámos
Que sabemos receber
[…]
Do Flávio com Artesanato
Aos Bordados da Silvina
Das Artes Decorativas da Fátima
Aos trabalhos da Celestina

Dos Arraiolos da Dilene
À Poesia do Poeta
Dos Trapilhos da Paula
Aos produtos da Liseta

O Hélio com Apicultura
A Marta com doçarias
Dos xailes antigos e colchas
Até às fotografias

Tudo bem organizado
Estava tudo bem bonito
E as Paliteiras mostraram
Como se fazia o palito

O Barco da Sara mostrou
A tradição do Barqueiro
Dos outros tempos de outrora
Das tradições do Caneiro

[…]

NOTA SOBRE O AUTOR

Jorge Figueiredo é natural de Foz do Caneiro, freguesia de Lorvão. Foi aqui que passou grande parte da sua infância e juventude. “O Rio Mondego, nessa época, deixou em si gratas recordações. Mais tarde, como tantos outros, deixou a sua terra e partiu para outras paragens, mas as circunstâncias da vida, fizeram-no regressar à sua aldeia em 2004. Foi a partir de então que, entre outras, estas belíssimas paisagens que o Caneiro nos oferece, o Rio e esta natureza pura que nos envolve, foram para ele uma fonte de inspiração que culmina agora nesta POESIA À BEIRA DO MONDEGO” – podemos ler na contracapa deste livro.

Em 2011 publicou também Brumas do Mondego. Neste seu segundo livro de poesia o autor desenvolve o tema da natureza em geral. Recorde-se que por essa altura nos confrontávamos com a ameaça da construção de uma mini-hídrica que, de acordo com Jorge Figueiredo, “iria alterar todo o ecossistema da zona”. Este livro é, em certa medida, um grito de alerta e revolta contra a construção daquela obra, que graças à oposição das gentes do Caneiro e do nosso Concelho em geral, não se concretizou.
Do livro “Brumas do Mondego”, que inclui cinquenta e cinco poemas:

CANEIRO TERRA D’ÁGUA

Caneiro! Terra verde, terra d’água
Que nas encostas verdejantes vai nascendo!
Do Mondego que aqui passa a teus pés
E que na Foz as suas águas vês correndo!

Saltitando de pedra em pedra vem a água,
Doces tons vem entoando de mansinho!
Nas ribeiras de Valbom e da Silveira
Sempre a acenar às flores no seu caminho!

E esta Ribeira que vem do alto desta serra
E que passa aqui tão juntinho a nós!
Na Ribeira d’Arcos, na Cascata e no Pontão,
E desagua no Mondego junto à Foz!

A Fonte Velha! Quantos anos e histórias
Ela já teve e tem ainda para contar!
E entrega àquela Ribeira que lá passa,
As suas águas que o Mondego vai beijar!

Matando a sede ao viajante que ali passa
Está o centenário Chafariz da Casinha!
Água tão pura a correr da sua bica,
Junto à estrada, ali mesmo à beirinha!

Caneiro! Terra verde, terra d’água,
Com nascentes a correr por todo o vale!
Esta água pura, tão fresca e cristalina,
Dá mais vida a este paraíso natural!

David Gonçalves de Almeida

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