“De uma forma geral, a informática tem sido uma área-chave para o desenvolvimento de Cabo Verde”, avaliou à Lusa o investigador, coautor do livro “Versão 1.0 da História da Informática em Cabo Verde”, lançado recentemente na Praia.
Com uma compilação “Do passado ao presente, de olhos no futuro”, o livro é o fruto de mais de cinco anos de investigação feita juntamente com José Manuel Duarte dos Santos, além de factos históricos e depoimentos inéditos de mais de 30 informáticos (entre outros profissionais do setor), desde os anos 1970.
Desde os primeiros passos da informatização no país, em 1976/1977, dados pelo especialista português Mário Valadas, o autor notou o “percurso notável”, exemplificando com o facto de Cabo Verde estar entre os 10 primeiros países africanos ao nível da governação eletrónica.
O livro aborda ainda o atual estado de desenvolvimento tecnológico do país e deixa pistas de melhoria, nomeadamente em algumas questões onde a classificação nos ‘rankings’ internacionais “não é tão boa”, como a cibersegurança e em alguns aspetos do quadro legal.
“Apesar da boa classificação que os ‘rankings’ internacionais a nível de governação eletrónica nos têm demonstrado, nós temos ainda alguns desafios, e temos que trabalhar esses desafios para tornar o país competitivo e melhorar a classificação em termos de posicionamento global”, sugeriu o autor, licenciado e mestre em Engenharia Informática pela Universidade de Évora.
A obra, a primeira sobre a história da informática em Cabo Verde, identifica o “primeiro sinal” da informatização no país quando o especialista português foi convidado a colaborar na definição e implementação do sistema de fixação do câmbio do Banco de Cabo Verde (BCV).
E para esse processo, muito contribuíram o então governador do BCV, o defunto Corentino Santos, e o ministro das Finanças do país, o também já falecido Amaro da Luz, fazendo com que, mesmo com as dificuldades na difusão no país constituído por ilhas, existem “condições mínimas” de acesso em todas as localidades do arquipélago.
Conforme constatou na investigação, a informatização teve vários momentos, começando pela Administração Pública, passando depois para o primeiro Recenseamento Geral da População e Habitação (1981), altura em que esteve no país o belga Philippe Mambourg, especialistas das Nações Unidas, para apoiar nessa operação estatística, tendo sido a primeira vez que se ensaiou a utilização de um computador num processo do tipo.
“E o processo correu de tal forma bem que os decisores políticos de então, sobretudo o engenheiro José Brito, que era o secretário de Estado do Planeamento e Cooperação, decidiram disseminar a informática para a Administração Pública, avançando para as empresas estatais”, recordou Juvenal Pereira, presidente da comissão de implementação do Sistema Nacional de Identificação e Autenticação Civil (SNIAC), considerando o “projeto mais transversal” de todas as reformas em curso no âmbito da governação eletrónica em Cabo Verde.
Passando para o estado atual, com a massificação do uso das denominadas novas tecnologias de informação e comunicação, o também docente universitário chamou a atenção para os riscos, constatando que nem todas as pessoas possuem o mesmo nível de literacia digital.
“É um ponto que nós temos que trabalhar. Cerca de 60% dos cabo-verdianos tem conhecimentos muito básicos e elementares a nível da utilização das tecnologias e só 10 a 12% tem conhecimento mais avançado, e então nós temos que aumentar a literacia digital”, sugeriu.
No trabalho, acesso a serviços e no controlo do uso por parte das crianças são algumas das áreas que o engenheiro informático considera importante fazer-se um trabalho de pedagogia para uma utilização com e em segurança das novas tecnologias.
“Sobretudo ao nível das escolas, das famílias, uma educação para o digital”, reforçou à Lusa, considerando que tudo isso é fundamental para evitar a exposição que se assiste atualmente, sobretudo nas redes sociais.
Por isso, sugeriu a introdução nas escolas de disciplinas de segurança informática, bem como matérias que têm a ver com as boas práticas na utilização das tecnologias.
“Mas também com programas radiofónicos, programas televisivos, no sentido de educar a própria sociedade, de sensibilizar as pessoas para as boas práticas na utilização, sobretudo das redes sociais”, persistiu.
E deu conta das “tecnologias emergentes”, como a inteligência artificial, o ‘blockchain’ ou Internet das coisas, que considera constituírem oportunidades para o desenvolvimento do país, em que de acordo com o último relatório da Economia Digital, só a inteligência artificial e a Internet das coisas representaram um “crescimento brutal” para o setor a nível global.
“Portanto, nós temos essa oportunidade, temos uma geração de jovens já com melhor preparação do que tínhamos no passado e temos que aproveitar essa juventude, colocar-lhes as condições necessárias em mãos para que possam explorar essas novas tecnologias e reverter isso em oportunidades para o desenvolvimento não só do país, desses jovens enquanto empreendedores, mas também o desenvolvimento global”, advogou.
Para Juvenal Pereira, o Governo tem feito um bom trabalho na aposta no digital, com vários programas nesse setor, inclusive com ‘startups’ a participarem nas várias edições da Web Summit, uma das maiores feiras mundiais de inovação, tecnologia e empreendedorismo.
Com prefácio de Emanuel Spencer e posfácio de Luís Arriaga Cunha, da Universidade de Évora, o livro está organizado em seis capítulos, cada um abordando uma década, desde 1970 até ao presente, e os autores deixam em aberto a hipótese de uma “Versão 2.0 da História da Informática em Cabo Verde”, quem sabe em 2030, desde que surgem outros factos relevantes.
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