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David Gonçalves de Almeida
“Meu Rio de Prata”, livro de Ulisses Baptista, foi apresentado na Biblioteca Municipal de Penacova no dia 29 de Setembro de 2012.
É um livro que fala de Penacova e do rio Mondego e que, “de uma forma acessível, tenta dar a conhecer o impacto humano no rio que banha Penacova desde há longos anos até à actualidade”, relatando “alguns dos costumes das suas gentes e das suas bucólicas paisagens.” – referiu o autor na sessão de lançamento que contou com um apontamento musical proporcionado pelo Grupo Ensemble.
A Vereadora da Cultura, Fernanda Veiga, deu as boas vindas aos presentes e Carina Quintas da Costa fez a apresentação da obra, considerando que se tratava de um trabalho muito bem conseguido sobre Penacova, “muito belo, muito leve e suave”.
Para melhor compreender os pressupostos e as intenções deste livro, consideramos pertinente transcrever a “Nota do Autor”, que podemos ler a páginas 9 e 10:
“Nasci num dia de quase fim de Verão, junto a um pequeno paraíso, numa terra com vistas de sonho, em que o verde-escuro dos pinhais toca o horizonte, oferecendo uma paisagem perfeita de contrastes com o azul do céu e com os retoques subtis, aqui e acolá, dos pequenos núcleos de vegetação folhosa e perene.
Penacova é uma região onde, a partir dos altos miradouros, se vislumbram montes a perder de vista, alguns, acimados por belas fragas, verdadeiras paredes verticais de dezenas de metros de altura, que conferem uma luminosidade atraente e singular à atmosfera.
Quando lá nasci, e até há relativamente pouco tempo atrás, o Mondego espreguiçava-se em percurso tortuoso, espelhando a cor do céu. Nas estações quentes, o rio fluía transparente por entre enormes bancos de areia prateada. Actualmente, já não é tanto assim, e, tal como em todo o país, espécies arbóreas, tais como o eucalipto e a mimosa, têm também invadido muita área florestada, desvirtuando um pouco a paisagem e tendo efeitos nocivos a outros níveis.
Sinto-me, no entanto, feliz por pertencer ao grupo de pessoas que nasceram e viveram, pelo menos, parte da sua vida, em Penacova.
O trabalho que se segue é uma breve história de Penacova e de algumas das suas tradições, e, mais do que isso, uma perspectiva sobre o impacto humano no rio Mondego e a importância estratégica que o mesmo rio teve, ao longo dos tempos.
Sendo este o maior rio inteiramente em território português e tendo sido de importância determinante, servindo, inclusivamente, como uma via de comunicação privilegiada até há meia dúzia de décadas atrás, interessa acrescentar que os problemas maiores de poluição que hoje nele se verificam são também relativamente recentes, e que continua a ter a uma importância determinante a outros níveis.
Neste livro, ao apresentar o texto do modo que se segue, é, pelo menos no meu entender, uma forma de elogiar o ar bucólico que as paisagens penacovenses continuam a ter, apesar dos atentados ambientais que se têm verificado, especialmente nas últimas três décadas, e de uma outra ameaça que pairou sobre o rio: um projecto para a construção de uma nova barragem, entre Penacova e Coimbra. Espero que este livro sirva para despertar ainda mais consciências para um maior respeito para com a natureza.”
Esta obra é constituída por 183 quadras, distribuídas por 40 páginas. Salienta o autor que
“a mensagem ambiental que encerra chegará mais facilmente ao grande público, através deste género literário, na medida em que a melodia, a rima (que gera expectativa) e a própria estrutura do poema (a quadra) tornam a obra mais leve não deixando de ser profunda.”
Daquele conjunto de quadras, distribuídas por 4 partes (I – Um início indecifrável; II – A Idade Média; III – A Idade Moderna; IV – A Idade Contemporânea) deixamos aos leitores as seguintes passagens:
82
Mas o caminho das águas,
que era feito todo o ano,
era, lembrando as mágoas,
árduo, falso e desumano;
83
Com barcaças de madeira,
cobertas de negro pez,
em bico à proa e na traseira
mastro ao meio do “convés”;
84
Compridas, com vinte jardas,
e largas, como três passos,
podiam com mil arrobas,
sem perdas nem embaraços;
85
A vara eram deslocadas,
e, quando possível, à vela;
nas correntes, governadas
por barqueiros de farpela.
86
Entre a Raiva e a Figueira,
e com pouco que estorvasse,
barco, barca ou bateira,
navegavam com classe.
87
Rio abaixo, rio acima,
as barcas, ditas serranas,
transportavam grande rima
de coisas nada mundanas.
88
Os barqueiros, que eram tanto
zeladores de bens, com brio,
tinham que sofrer o canto
das lavadeiras do rio:
89
– Olha, Zézito, olha o leme,
senão vais à pedra aguda!
Mas um barqueiro não treme,
nem tem sequer quem lhe acuda.
90
E alguns deles se perderam,
por via de tanta agrura;
mas, pelo menos, conheceram
gente, fama e aventura.
91
Rio outrora navegável,
o Bazófias, o Mondego,
era um sonho adorável
para soerguer o ego.
NOTA SOBRE O AUTOR
Ulisses Baptista nasceu em Penacova em 1972. É licenciado em Engenharia do Ambiente pela Escola Superior de Tecnologia de Viseu. Meu Rio de Prata é a sua primeira obra editada. Entretanto, publicou (2022) Regresso às Origens, obra que reúne um conjunto poemas onde se cruzam recordações de infância, passada na Carvoeira, preocupações ambientais e sentimentos perante a Vida e a Natureza. Ulisses Baptista tem, igualmente, vindo a publicar (em prosa e em verso) na página “Carvoeira, terra amiga” (Facebook), de que é administrador. Trata-se de um espaço que nos fala das histórias e das lendas da terra e tem vindo a publicar fotografias e factos sobre a Carvoeira, seus lugares e suas gentes. Aquando da tentativa de ser construída perto do Caneiro uma mini-hídrica escreveu um texto de intervenção “Trinta anos de atentados” (crónica publicada no Penacova Actual). Vive na região de Vale de Cambra, sem deixar de manter o cordão umbilical a Penacova.
FICHA BIBLIOGRÁFICA / BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL
MEU RIO DE PRATA / ULISSES BAPTISTA
AUTOR(ES): Batista, Ulisses, 1972-
EDIÇÃO: 1ª ed.
PUBLICAÇÃO: [Lisboa] : Chiado Editora, 2012
DESCR. FÍSICA: 54 p. ; 22 cm
COLEÇÃO: Prazeres poéticos
ISBN: 978-989-697-749-8
DEP. LEGAL: PT -345851/12
CDU: 821.134.3-1″20″; 908(469.322)(0:82-1)
David Gonçalves de Almeida
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