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David Gonçalves de Almeida
A “Câmara dos Senhores Deputados da Nação Portugueza” (assim se designava) debateu o assunto por diversas vezes. Em Março de 1873 o deputado António José Teixeira teve uma longa intervenção sobre os caminhos de ferro em defesa da viabilidade de ser construída uma linha que ligaria Coimbra a Santa Comba Dão passando por Penacova.
Na época, variadas hipóteses se apresentaram para o traçado da Linha da Beira Alta. Uma das soluções passava por um trajecto a sul do Mondego (Coimbra, Miranda do Corvo, Arganil, Seia, Celorico, Vilar Formoso) e outra defendia a tese do itinerário a norte do mesmo rio. Esta alternativa alimentou algumas divergências quanto ao local onde entroncar com a linha do Norte: uns defendiam que deveria ser em Coimbra outros na Pampilhosa e outros ainda apontavam para Mogofores.
Complementarmente, esteve em cima da mesa, com estudos e cálculos pormenorizados, a proposta para a construção de uma linha seguindo a margem direita do Mondego. Projectada por Boaventura José Vieira, engenheiro responsável pela construção das Linhas do Algarve, do Minho e do Douro, partia de Coimbra B, o caminho de ferro subia o Vale de Coselhas, passava entre o Tovim e Santo António e rumava na direcção das Torres do Mondego, implicando a construção de diversos túneis. Daí, contornando sempre a margem direita do Mondego, dirigia-se a Penacova, seguia para a zona da Foz do Dão e, pela margem esquerda do Dão, atingia Santa Comba. As estações localizar-se-iam, além de Coimbra, em Penacova, Almaça e Santa Comba Dão. Seriam construídas nove casas de guarda, de cinco em cinco quilómetros.
Torres, ribeiras de Valbom e Silveira, Caneiro … Pontes, viadutos, obedecendo às voltas e voltas que o rio traça. Ao km 17, na Ribeira da Peneirada, seria aberto um túnel de 600 metros. Um outro, a seguir à Ribeira de Lorvão teria 100 metros. Chegados a Penacova, ao quilómetro 22, seriam construídos mais dois túneis. Um de 60 metros e outro, por baixo da vila, com 190 metros. Seguia-se um viaduto sobre o Vale das Laranjeiras e para transpor a massa quartzítica de “Entre Penedos” seria necessário construir grandes muros de suporte e fazer cortes de 12 a 15 metros na rocha. Na direcção da Raiva, ao km 25, mais um viaduto de 30 metros e na Raiva um túnel com 250 metros para passar à encosta de Gondelim. Mais viadutos sobre a Ribeira de Gondelim e do Penso, até chegar ao Cunhedo (km 31) onde teríamos um túnel de 225 metros. Seguia-se um viaduto, de 150 metros de extensão e 20 de alto, que nos levava à estação de Almaça. Aqui, as gentes de S. Pedro de Alva e Mortágua apanhariam o comboio. Vale de Porcas, mais um viaduto. Do lado de lá do túnel irá aparecer o vale do Dão. Mais pontes, mais viadutos, mais túneis. Agora, na margem esquerda do Dão, há que transpor cinco viadutos, alguns com 35 m de alto, para chegar a Santa Comba. Nos 45 quilómetros, de Coimbra a Santa Comba, teríamos 75 curvas (49% do percurso). Quantos viadutos? Nada menos que 22, com média de altura de 31 metros. Quanto a pontes teríamos 15 (mais duas para passagens inferiores).
Não admira, pois, que se tenha abandonado esta solução, podemos pensar. Mas, feitas as comparações, por exemplo entre a proposta Mogofores e a proposta Vale do Mondego, conclui-se que quanto aos viadutos aquela levaria vantagem. Por outro lado, o trajecto por Penacova implicaria 10 túneis, totalizando 2300 metros. Mas, argumentou-se na Câmara dos Deputados, era preferível abrir dez pequenos túneis do que um túnel de 1840 metros, com maiores custos de construção e exploração… O traçado pelos Vales do Mondego e Dão implicava 19 pontes. O de Mogofores, 25. Outro argumento a favor da linha por Penacova era o facto de no Vale do Mondego, o rio ser “um grande auxílio” pois, “todos os materiais de construção podiam ser levados de barco” a todos os pontos do trajecto. O custo total da obra (Coimbra-Penacova-Santa Comba) orçava cerca de dois milhões e meio de réis.
Tudo não passou do debate político e do papel, como se costuma dizer. O abandono deste projecto não se deveu apenas aos custos da obra. O traçado da Linha da Beira Alta que acabou por vingar deveu-se também a opções políticas.
Como seria a história económica e social de Penacova e a fisionomia actual do concelho se em finais do século XIX aqui tivéssemos começado a “apanhar o comboio”?
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