
henrique monteiro
Há muitos anos, por iniciativa do Ministério da Orientação Islâmica (Islamic Guidance) do Governo do Irão (o aiatola Khomeini ainda era o chefe supremo do país), visitei um campo de mortos. Fora mandado por “O Jornal” (acho que foi o já falecido Carlos Cáceres Monteiro quem me enviou) para cobrir aspetos da então chamada “guerra das cidades”. O conflito era entre o Irão e o Iraque, e na época o Ocidente apoiava Saddam Hussein, Presidente do Iraque, tão ditador e louco como o foi até ser deposto. O inimigo eram os aiatolas, tão fanáticos e integristas como o são até hoje. Na época, várias coisas eram proibidas no Irão, desde logo o desodorizante (pelo menos para homens) e as camisas com a manga acima do cotovelo (também para homens). Às mulheres tudo ou quase era interdito, como mostrar o cabelo ou não usar aqueles balandraus que escondem as formas do corpo.
O campo que me mostraram (a mim e a jornalistas de vários países) era a caminho de Ormuz, onde os portugueses deixaram um forte dos tempos em que dominavam aquele estreito estratégico entre o golfo Pérsico e o golfo de Omã. A noroeste fica o Shatt al-Arab, resultante da confluência do Tigre e do Eufrates, o berço da civilização e local estratégico para a exportação de petróleo por ambos os países. Nesse campo estavam centenas de cadáveres, retorcidos, com esgares nas faces e um desespero que apenas vira em quadros a óleo. O cheiro era estranho, não nauseabundo, menos ainda agradável, mas talvez seja o cheiro da morte, do massacre. Alguns jornalistas ficaram indispostos, a consternação era geral.
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