Sofre de esclerose múltipla: “Porquê eu? O que é que eu fiz?”

Ângelo Torres, de 55 anos, revela que sofre de esclerose múltipla. O ator, que deu que falar na novela ‘A Única Mulher’, TVI, assumiu em entrevista ao programa Júlia, da SIC, que escondeu a doença durante mais de duas décadas. “Em março de 2000 comecei a sentir umas coisas: a falta de força nas pernas, problemas de coordenação, visão dupla, não conseguia focar bem. Fui para tudo o que é medico, fiz 40 consultas e não se conseguia descobrir o que é que era. Até que é definitivo: ‘Tens esclerose múltipla moderada progressiva’”, começou por contar durante a conversa com Júlia Pinheiro.

“A primeira reação é: ‘O que é que é isso?’. Depois: ‘Porquê eu? O que é que eu fiz?’. E aí começa a mentira. Não sei se foi medo, não sei se foi vaidade… O que me leva a mentir não sei”, lembrou.

Ângelo Torres explica agora porque é que sempre escondeu o diagnóstico. “Se eu disser será que o telefone volta a tocar?”. “Tive problemas de focar, ligo ao médico e digo: ‘Não consigo ler, estou a ensaiar’. Passei por lá, ele viu e disse: ‘Estás a ter o teu primeiro surto. Vais ter de tomar cortisona’. Só sei que menti uma vez, menti duas, tentava disfarçar. As pessoas diziam: ‘O que é que estás a fazer? Estás a ler mal’. E eu: ‘Estou a ler mal? Ah desculpa, tenho uma imaginação muito fértil’ – como sou disléxico, começo a frase e imagino o resto, digo o que está na cabeça e não o que está no papel. Adotei isso como norma”.

Ângelo Torres assume: “Comecei a ganhar fama de embirrento”

E revelou outras estragégias que adotou para que ninguém percebesse. “Um movimento mais brusco e dizia: ‘Não posso. Não tenho idade’. E comecei a ganhar fama de embirrento, mania de quem não gosta de fazer as coisas”, contou. “Tomei duas sessões de cortisona e passou. Pensei: ‘Uau, tenho o remédio. Basta tomar cortisona e a coisa passa’. Cada surto que eu tivesse no meio de um trabalho, inventava uma desculpa qualquer para poder ir ao hospital e me dessem horas livres. Por exemplo, aguentava para poder sexta-feira subornar alguém da produção, para que pudesse sair cedo. Se pudesse garantir três sessões de cortisona dava para disfarçar”, lembrou.

Texto: Vânia Nunes; Fotos: Impala

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