A peça é “uma adaptação daquela tragédia grega de Sófocles”, “Antígona”, que traça “um paralelismo” entre o que se passou em Tebas e o que se passa no Brasil, nomeadamente na luta pela terra no norte do país, disse Milo Rau à agência Lusa. “Nada é mais monstruoso do que a humanidade”, afirma o coro, no início da obra.
O drama que o encenador e realizador suíço apresenta na Culturgest, em Lisboa, este fim de semana, e no Teatro Rivoli, no Porto, na próxima semana, resultou de um trabalho conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) após duas idas ao Brasil, em 2019 e 2020, explicou.
“Penso que o que está a acontecer na Amazónia é um problema universal”, sustentou Milo Rau, argumentando que tal como ‘Antígona’, de Sófocles, “é uma luta da humanidade contra si própria”.
Uma “luta do homem contra a natureza”, frisou.
Na peça, é possível encontrar cenas do Movimento dos Sem Terra e de pessoas que vivem na Amazónia em luta contra “a completa destruição e aniquilação da floresta”, que é o que está “no cerne da peça”.
Uma das perguntas que o espetáculo equaciona é se a situação na Amazónia assume alguma importância para a Europa, uma vez que se trata de um continente também afetado com problemas graves, como a guerra na Ucrânia, as alterações climáticas e o impacto das guerras no Médio Oriente.
Há muitas lutas em curso na Europa, mas a da Amazónia tem “sem dúvida muita importância”, porque não é uma questão meramente “local”. É uma questão com “projeção universal”, indicou.
Milo Rau acrescentou que continua a sentir um “enorme fascínio” pela tragédia “Antígona” devido “à atualidade do texto”, que soma perto de 2500 anos.
“Trata da desconstrução da natureza e do apocalipse, do fim da humanidade”, observou Milo Rau, no sentido de se tratar do mais perene confronto com que a humanidade se depara.
Para esta peça, o encenador nascido em 1977 na Suíça viajou com a sua equipa para o estado brasileiro do Pará, onde as florestas ardem e a selva amazónica é devastada por uma exploração impiedosa, como a definiu.
Em colaboração com o Movimento de Trabalhadores Sem Terra, o maior movimento ‘desterrados’ do mundo, Milo Rau e equipa criaram uma peça que é uma alegoria sobre a resistência e a luta política contra “a devastação e deslocamento violentos causados pelo estado moderno, que coloca a propriedade privada acima do direito tradicional à terra”, como declara o texto de apresentação da obra.
“Há coisas monstruosas, mas nada é mais monstruoso do que a humanidade” — eis como o coro inicia o canto trágico, segundo a conceção de ‘Antígona’, de Milo Rau.
A peça contém passagens filmadas intervaladas com intervenções ao vivo, transportando o público quer para a mítica cidade de Tebas, onde se situa a ação original de ‘Antígona’, ora para o estado do Pará onde a floresta amazónica parece não ter futuro face à ganância humana.
‘Antígona na Amazónia’, de Milo Rau, com o Teatro da Cidade de Gent (NTGent) e o Movimento dos Sem Terra, tem duas récitas no auditório Emílio Rui Vilar, na Culturgest, em Lisboa: no sábado, às 21:00, e, no domingo, às 17:00.
Na quinta-feira, dia 16, e na sexta-feira, 17 de novembro, ‘Antígona na Amazónia’ estará em cena no Grande Auditório do Teatro Rivoli, no Porto, com sessões marcadas para as 19:30.
A peça é falada em inglês, tucano, neerlandês e português e tem legendas em português e inglês.
No domingo, em Lisboa, após o espectáculo, haverá uma conversa com o elenco, na sala 2 da Culturgest.
No Porto, o encontro realiza-se na quinta-feira, na sala maior do teatro municipal, também após o espectáculo.
A apresentação de ‘Antígona na Amazónia’ está incluída no Alkantara – Festival Internacional das Artes Perfomativas, a decorrer até ao próximo dia 26, em Lisboa, e em colaboração com o Festival de Otoño do Centro Cultural Conde Duque, em Madrid.
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